Crise impede aumento de salários de servidores, mas governo
'vê luz no fim do túnel'
Secretário
compara primeiro trimestre a música de Lulu Santos: 'Não vou dizer que foi ruim.
Mas também não foi tão bom assim'
por Luiz
Gustavo Schmitt e Selma Schmidt
08/04/2015
5:00
O secretário
de Fazenda, Júlio Bueno: queda na arrecadação dos royalties e ao escândalo da
Petrobras como causas de aperto nas contas do estado - Alexandre Cassiano /
Agência O Globo (21/01/2015)
RIO — Diante
de um cenário de crise, o estado decidiu priorizar o pagamento de seus 471.332
funcionários, ativos e inativos, mas os secretários de Fazenda, Julio Bueno, e
de Planejamento, Cláudia Uchôa, dão uma notícia nada agradável: o governo não
concederá novos aumentos aos seus servidores este ano. Até a reposição da
inflação está ameaçada. Os dois admitiram, nesta terça-feira, que estão em
atraso os pagamentos a fornecedores, prestadores de serviço — incluindo o de
limpeza — e Organizações Sociais (OSs). Eles atribuíram as dificuldades
financeiras principalmente à queda na arrecadação dos royalties e ao escândalo
da Petrobras.
— O que está
em dia? O pagamento dos servidores. O resto está atrasado — diz Bueno. — Estamos
dando prioridade a quem tem prioridade. Não tenho um tostão em caixa. Com o
caixa negativo, foi duro pagar o funcionalismo este mês.
Os reajustes
salariais (alguns divididos em parcelas que vão até 2019) aprovados no ano
passado para 41 categorias, no entanto, estão sendo honrados. Só em 2014 o
impacto financeiro dessas leis era estimado em R$ 481 milhões. Este ano, sobe
para R$ 2,7 bilhões, segundo a Secretaria de Planejamento.
— Os
aumentos que foram dados estão garantidos por lei. Para novos reajustes,
precisamos ter equilíbrio fiscal, sob o risco de eu não receber o meu salário
(ela é servidora do estado) — afirma Cláudia.
Bueno estima
em R$ 1 bilhão o valor devido pelo estado em atrasados. O Sistema Integrado de
Administração Financeira para Estados e Municípios (Siafem), acessado pela
liderança do PSDB na Alerj, revela, porém, que essa dívida chega a R$ 3,1
bilhões (R$ 1 bilhão de restos a pagar de 2014 e R$ 2,1 bilhão de serviços já
executados em 2015).
— O primeiro
trimestre deste ano foi Lulu Santos. “Não vou dizer que foi ruim. Mas também
não foi tão bom assim” — diz Bueno, citando trecho da música “Assim caminha a
humanidade”.
Para 2015, o
governo calcula em R$ 13,5 bilhões o déficit entre receita e despesa e se
planeja para chegar ao fim do ano com as contas zeradas.
— Durante
sete anos, a arrecadação cresceu fortemente. As despesas acompanhavam esse
crescimento. De maio do ano passado para cá, tivemos queda na arrecadação. No
segundo semestre de 2014, houve uma redução do preço do barril de petróleo (o
orçamento foi planejado com o barril cotado a US$ 100, mas, em janeiro, ele
estava em cerca de US$ 50). A operação Lava-Jato também é uma tragédia — lembra
Bueno.
Para tentar
quitar as dívidas até o fim do ano e iniciar 2016 zerado, o estado montou uma
equação, que inclui cortes de R$ 1 bilhão em cargos comissionados, o uso de R$
6,2 bilhões do Fundo de Depósito Judicial (reúne recursos depositados em juízo
durante o andamento de ações) e a renegociação de R$ 1,5 bilhão de débitos com
grandes devedores.
— Com a alta
do dólar, estimamos ter R$ 1,5 bilhão a nosso favor. Vamos também vender o
Refis (cartela de dívidas parceladas pelo estado), que deve gerar mais R$ 1
bilhão. Os outros R$ 2 bilhões virão do aumento da receita — acrescenta Bueno,
que espera, ainda este mês, poder informar aos fornecedores quando os débitos
serão quitados.
Embora os
números apontem para um quadro de pessimismo, o secretário está convencido de
que “há luz no fim do túnel”. E cita projetos que não dependem da arrecadação
estadual. É o caso do programa de Parcerias Público-Privadas (PPPs), que deve
ser lançado até outubro.
No
saneamento, os investimentos das PPPs — voltadas para a Baixada Fluminense e
para a região de Itaboraí e São Gonçalo — devem somar R$ 12 bilhões. Na próxima
sexta-feira, Bueno se reúne com o ministro Joaquim Levy, da Fazenda, para
definir como será o fundo garantidor dessas parcerias.
Há ainda
PPPs em fase de projetos para a área de mobilidade. A intenção é fazer duas
ligações de metrô: Carioca-Praça Quinze-Estácio e Niterói-São Gonçalo (Linha
3). Outro projeto que pode ser viabilizado por meio de parcerias é o Rio
Digital, que amplia a conexão de internet da rede pública estadual.
— Estamos
mal, mas a desgraça já foi pior. O caixa vai começar a melhorar, se Deus
quiser. Temos como estratégia manter as conquistas e ampliá-las através de PPPs
— diz Bueno, acrescentando que, com as parcerias, os investimentos somarão pelo
menos R$ 15 bilhões.
Para não ter
novos sustos em 2016, o estado tem como uma de suas estratégias lançar a sua
dívida ativa — que soma R$ 66 bilhões — para venda no mercado. Com os
municípios, pretende desenvolver parcerias, a fim de ajudá-los a vender
royalties futuros, como forma de fazer caixa.
PROTESTO
CONTRA FALTA DE PAGAMENTO
Um grupo de
faxineiros de empresas terceirizadas que prestam serviços para o estado fez,
nesta terça-feira, um protesto no Palácio Guanabara contra a falta de pagamento
dos salários de fevereiro e março. Uma comissão do Sindicato dos Empregados de
Empresas de Asseio e Conservação Rio se reuniu com assessores do governador
Luiz Fernando Pezão. Segundo o secretário-geral do sindicato, Olímpio Barroso
de Sá, um novo encontro ficou acertado para amanhã.
— O pessoal
terceirizado que trabalha na faxina, no atendimento e no almoxarifado de
delegacias, IML e outros órgãos da Secretaria de Segurança não recebeu os
salários de fevereiro e de março. As empresas alegam que o governo não está
repassando as verbas dos contratos firmados. São cerca de 1.200 pessoas. Parte
delas não está trabalhando — conta Olímpio. — Os trabalhadores terceirizados de
hospitais e escolas receberam fevereiro, mas não sabem como ficarão os salários
de março.
Leia mais
sobre esse assunto em
http://oglobo.globo.com/rio/crise-impede-aumento-de-salarios-de-servidores-mas-governo-ve-luz-no-fim-do-tunel-15809318#ixzz3Wj3aLt52
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