08/06/2015
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Brasil Econômico
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O mito da redistribuição da
participação governamental (Opinião)
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Julio Bueno
Um olhar mais atento sobre uma virtual redistribuição das receitas
originárias dos recursos do petróleo nos municípios brasileiros derruba um
dos principais mitos da história recente do país, que se baseia na crença de
que, tirando receita de uns, haverá salvação de outros. Ao contrário, os
números apontam que uma realocação das participações governamentais não irá,
ao contrário do que se imagina, implicar em retornos relevantes para os
municípios não produtores de óleo.
Está claro que uma participação adicional dos municípios não produtores na
arrecadação das participações governamentais não vai gerar mudança
significativa nas suas condições económicas . O incremento na receita corrente
desses municípios varia entre zero e 3%, enquanto a mesma mudança de regras,
para municípios produtores, leva a perdas de receita corrente da ordem, em
média, de 20%.
Como exemplo, cito os casos do município não produtor de Monte Santo, na
Bahia, que apresentava receita corrente de R$ 83,4 milhões em 2013. Com a
mudança das regras de distribuição de receitas de petróleo, segundo estudo da
Sefaz- RJ, o incremento para esse município seria de 1,6 milhão em um ano,
com um adicional de apenas 2% sobre sua receita atual.
Tomando, por outro lado, o exemplo de Macau, no Rio Grande do Norte,
município produtor cuja receita corrente em 2013 foi de R$ 94,4 milhões, uma
eventual mudança nas regras de distribuição implicaria uma perda de 15% na
receita, ou o equivalente a R$ 14 milhões.
Comparações similares também podem ser feitas no caso de municípios maiores,
com receitas mais graúdas. No caso de Campo Grande (MS), com receita corrente
de R$ 2,3 bilhões em 2013, uma mudança nas regras geraria um incremento de
apenas R$ 10 milhões no ano, praticamente nulo. Já em Campos dos Goytacazes
(RJ), com receita de R$ 2,3 bilhões, a perda naquele ano seria de26%,R$ 614
milhões.
Ou seja, os municípios produtores, em geral, vivenciariam um aniquilamento de
suas contas públicas, enquanto as novas regras não contribuiriam para uma
redistribuição mais justa e igualitária dos recursos públicos, como reza o
senso comum, em contraste com a evidência dos números.
No meio dessa forte crise econômica, com uma enorme luta de estados e
municípios por aumento de receita, é fundamental que a União negocie com os
entes federativos e estabeleça políticas para transição das atuais
turbulências. É crucial que os estados e municípios não sejam abandonados
nesse momento singularmente difícil da nossa história.
Observa-se que o governo, cada vez mais, amplia impostos que não são
redistribuídos com os estados. É o caso, por exemplo, do recente aumento da
contribuição social sobre o lucro líquido dos bancos, medida correta, mas
cuja receita ficará, exclusivamente, com a União.
A saúde financeira dos estados e municípios deve ser uma preocupação do
governo central, uma vez que o pacto federativo prevê a harmonia e a
solidariedade entre as esferas cie poder. Não haverá um país forte sem que
todos sejam convidados a participar das discussões sobre como superar essa
crise.
Os estados e municípios não emitem moedas ou títulos e, portanto, dispõem de
poucos instrumentos para lidar com os fortes impactos provocados pela brusca
e intensa desaceleração da economia. Uma visão geral e participativa de como
resolver esse momento aflitivo é preponderante para a paz social que
precisamos ter no Brasil.
Julio Bueno é secretário estadual de Fazenda do Rio de Janeiro
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