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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Estados querem se livrar da crise com uma derrama


Valor Econômico
Estados querem se livrar da crise com uma derrama

Após anos de bonança, com receitas crescentes, os Estados vivem o início de um ano difícil e agora ameaçam com uma derrama. Alguns deles, como o Rio Grande do Sul, cronicamente endividado, deixaram de pagar parcelas da dívida com a União, e outros, como Sergipe, atrasaram os pagamentos. Diante de um governo central enfraquecido e sem apoio político, cresce o movimento nos Estados para engordar receitas por meio de aumento de impostos e remoção de barreiras à ampliação do endividamento, punindo os contribuintes.
"Os Estados levaram solicitações ao governo e o diálogo não veio", reclamou o coordenador-geral do Confaz, André Horta, do Rio Grande do Norte, um dos cinco Estados que estouraram o limite de gastos com pessoal em relação à receita corrente líquida estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Na mais recente reunião do Confaz, além das reclamações sobre a queda de arrecadação, vários secretários—com exceções, como o da Fazenda paulista — alinharam uma agenda de arrepiar. Entre as propostas estão o aumento para 18% do ICMS sobre o diesel e para 20% do tributo sobre heranças e doações — hoje o teto é 8%, mas vários Estados cobram 4%. Há secretários que defendem a volta da malfadada CPMF, desde que haja divisão de receitas.
Os Estados cobram da União permissão para a contratação de novos empréstimos, com aval do Tesouro, em boa hora suspensa pela Fazenda. No auge da farra fiscal promovida em 2013-2014, além das pedaladas, os Estados receberam autorização para contrair dívidas no exterior, e elevaram seu endividamento. Não demorou para que o risco óbvio dessas operações aparecesse na forma de forte desvalorização do real. Os Estados reivindicam também, desta vez com razão, o ressarcimento de R$ 1,95 bilhão com a isenção das exportações, que o governo federal não liberou porque diz não ter recursos para isso.
Muitos Estados esgrimem como prova de penúria a falta de dinheiro para pagar os salários dos servidores. A culpa da União, no caso, é indireta. As sucessivas valorizações do salário mínimo jogaram para cima a folha de pagamento dos entes federados. Mas a politicagem tradicional, com o inchaço das • máquinas estaduais durante o período de aumento de receitas, explica a situação aflitiva. Esse movimento foi amplo e quase irrestrito, de acordo com os dados do Tesouro até abril. Entre 27 Estados e o Distrito Federal, só 5 — Rondônia, Mato Grosso do Sul, Roraima, Maranhão e Rio — estão abaixo do limite de alerta da LRF, de 44,1 % da receita corrente líquida. Na outra ponta, Paraná, Rio Grande do Norte, Tocantins, Mato Grosso e Alagoas já estouraram o limite de 49%.
Mesmo com problemas de caixa, União e Estados continuam contratando, enquanto estudam ou reivindicam aumento de impostos. Segundo o Caged, 547 mil postos de trabalho foram eliminados no ano até julho. A administração pública, porém, é um dos dois únicos setores que continuam contratando, ao lado da agricultura.
Na média, os salários do setor público são maiores e seus trabalhadores estão muito mais protegidos dos ciclos da economia que os do setor privado. Na prática, Estados e União (desde 2006) ampliam contratações em tempos bons e não as reduzem em tempos ruins. Não apenas não querem queimar cacifes eleitorais em disputa com setores organizados do sindicalismo como não pretendem desfazer a teia das indicações feitas via compadrio político. Para baixo, a folha de pagamentos é absolutamente rígida.
Os Estados usaram o expediente menos problemático, cortando investimentos que farão falta no futuro. O passo seguinte é procurar aumento de impostos. Mas estudos comprovam que o corte de gastos tem consequências menos prejudiciais à economia que o aumento de impostos, que deprimirá ainda mais as receitas estaduais e sancionará um nível de despesas bem acima do desejável, até a próxima crise.
Os Estados, com exceções, deveriam se preocupar com a perda de receitas advindas da guerra fiscal e se empenhar em um esforço gerencial que aliviasse o peso da máquina pública sobre o contribuinte. Embora difícil, e com tendência de piora, a situação das finanças estaduais não é ainda desesperadora. Até abril, a receita líquida aumentou na maioria deles, enquanto a relação entre despesas líquidas e receitas caiu, menos em Goiás e Rio Grande do Sul.
Diretora de Redação

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