Cabral diz que Pezão o 'apresentou' a secretário
preso em operação
Procuradoria aponta Hudson Braga como um dos operadores de propina em
esquema de corrupção milionário entre 2007 e 2014
Rio - Em depoimento à
Polícia Federal, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) afirmou que seu
sucessor, o atual governador Luiz Fernando Pezão, que foi secretário e
vice-governador na sua gestão, foi quem lhe apresentou Hudson Braga, apontado
pela Procuradoria da República como um dos operadores de propina em esquema de
corrupção milionário do qual Cabral teria sido o líder em seus dois mandatos
(2007 a 2014).
Ainda segundo Cabral,
que negou à PF ter se beneficiado de irregularidades e acusou os empresários
que o delataram de estarem mentindo, Pezão foi o responsável por escolher
Hudson para o cargo de subsecretário de Obras. Posteriormente, Hudson veio a
ocupar o cargo de secretário de Obras na gestão de Cabral no lugar de Pezão.
Pezão ocupou a
Secretaria Estadual de Obras de 2007 até 2011 - primeiro mandato de Cabral -,
quando, então, assumiu o cargo de Coordenador de Infraestrutura e Hudson
assumiu a secretaria. Neste período em que foi secretário, Pezão foi o
responsável, segundo Cabral, por iniciar a licitação de reforma do Maracanã
para a Copa do Mundo/2014 - as obras de reforma do estádio são alvo da Polícia
Federal.
Para investigadores
da Calicute, a versão de Cabral citando Pezão pode ser uma estratégia para
tirar o caso da competência da Justiça Federal de primeira instância, no Rio e
em Curitiba, e deslocar os autos para o Superior Tribunal de Justiça, Corte que
detém atribuição para eventualmente processar governador.
As investigações da
Procuradoria da República no Rio, com base nas delações de seis executivos da
Carioca Engenharia e da Andrade Gutierrez, apontam que foi exatamente no
período em que ocupou a subsecretaria que Hudson teria cobrado a chamada
"taxa de oxigênio" dos empresários.
Hudson Braga teve a
prisão preventiva decretada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal do
Rio, e atualmente está no complexo penitenciário de Bangu, mesmo local onde
Cabral está detido. "O mesmo teria participado ativamente do esquema
delituoso, por meio do qual teria amealhado indevidamente grande quantia de
dinheiro", assinalou o juiz ao decretar a prisão de Hudson.
O próprio advogado do
ex-governador, durante o interrogatório, o questionou especificamente sobre a
obra do Maracanã, na qual, segundo as investigações, teria havido a cobrança de
5% de propina para Cabral e seus aliados.
"Dada a palavra
ao advogado do indiciado (Cabral), este perguntou ao declarante sobre quem
seria o secretário de Obras responsável pela licitação de reforma do Maracanã,
tendo este respondido que se iniciou na gestão de Luiz Fernando Pezão, como
secretário de Obras, tendo sido concluída na gestão de Hudson Braga, tendo a
obra sido acompanhada pela EMOP (Empresa de Obras Públicas do Estado do
Rio)", segue o depoimento de Sérgio Cabral
O ex-governador ainda
ressaltou que Pezão teria participado de suas reuniões com empresários. Ao ser
questionado sobre os encontros com os executivos da Andrade Gutierrez Alberto
Quintaes, Rogério Nora de Sá e Clovis Primo, o peemedebista afirmou que
"não sabe precisar o número de vezes" que teria se encontrado com
eles, "mas que sempre atendia executivos das diversas construtoras, quando
era procurado ou até quando os convocava para eventual controle de obras, sendo
que nessas reuniões sempre havia o titular da pasta, no mínimo, e nestes casos
em geral o secretário de Obras", afirmou.
O ex-governador disse
ainda que "nunca recebeu individualmente" nenhum executivo nestes
encontros, que ocorriam no Palácio Guanabara e Palácio das Laranjeiras durante
sua gestão.
Ainda em relação a
Hudson, além da suposta cobrança de propina que teria operacionalizado, as
investigações apontaram que ele teve uma evolução patrimonial incompatível e que
teria utilizado seus familiares para lavar dinheiro. "As investigações
sugerem que as atividades empresariais desse investigado, que envolvem seus
familiares ('laranjas'), afiguram-se incompatíveis com seu padrão
socioeconômico anterior à constituição das sociedades, bem como apresentam
acréscimo patrimonial suspeito, o que pode se relacionar com atos de lavagem de
dinheiro", apontou o juiz Marcelo Bretas ao decretar a prisão de Hudson.
Procurado pela
reportagem, o governo do Rio informou que não iria comentar o caso.
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