quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Disputa pela presidência da Alerj Atual e ex-presidente da Alerj se sentam à mesa com eleitos em disputa pela presidência da Casa
Enquanto Paulo Mello diz que saída seria 'injusta', Jorge Picciani garante já ter apoio da maioria no PMDB
por Luiz Ernesto Magalhães e Ruben Berta
29/10/2014 5:00
Ex-vendedor de cocada na infância, Paulo Melo tem 57 anos e foi reeleito para o seu sétimo mandato consecutivo. Em 1991, em seu primeiro mandato, presidiu a CPI que investigou o extermínio de menores no Rio e na Baixada Fluminense. Desde 2011, preside a Assembleia Legislativa (Alerj) - Fernando Quevedo / Agência O Globo
 
RIO — As urnas eletrônicas mal foram desligadas, os 70 deputados estaduais eleitos do Rio só vão assumir seus postos no dia 1º de janeiro, mas um novo pleito, previsto para fevereiro do ano que vem, já mexe com os bastidores da Assembleia Legislativa (Alerj): a disputa pela presidência da Casa. O partido dos dois oponentes é o mesmo, o PMDB, ambos dizem nutrir um grande respeito pelo adversário, mas o fato é que, ao menos por enquanto, não convém convidar Jorge Picciani, que foi presidente da Alerj por oito anos, e Paulo Melo, atual titular, para se sentarem à mesma mesa. Coincidência ou não, na segunda-feira, Picciani ofereceu um almoço para angariar apoios. Paulo Melo optou por um jantar. E cada um dos lados garante que seu banquete é mais completo, o que indica que a disputa só está começando.
— Os pregadores do Apocalipse acham que eu vou brigar com o Picciani. Mas eu não vou fazer isso. Estou fazendo os meus movimentos legítimos. Temos maturidade suficiente, e o nosso grupo nunca se desfez. Mas ele (Picciani) e o Sérgio Cabral ficaram cada um oito anos na presidência da Casa e eu só estou há quatro. Seria injusto se eu saísse agora. Se eu sair, estarão me dando um voto de desconfiança, é isso? — alfineta o atual presidente Paulo Melo.
 
Picciani também não quer o rótulo de uma briga, mas não deixa por menos. Ele garante já ter elaborado um documento com um abaixo-assinado, “para ser apresentado na hora certa”, no qual reivindicará o cargo.
— A tradição é que o partido com a maior bancada indique a presidência. Eu o respeito muito (Paulo Melo) e nada impede até que ele se lance candidato. Mas já tenho o apoio da maioria do PMDB. Os demais cargos da Mesa Diretora serão ocupados respeitando o tamanho das bancadas. O PSDB, com oito deputados, terá a primeira secretaria. E, pela primeira vez, o PSOL teria representatividade (com cinco deputados) para compor a mesa — explica Jorge Picciani, em tom de futuro presidente.
Atual presidente regional do PMDB, Jorge Picciani volta à Alerj no ano que vem, depois de uma tentativa fracassada de alçar voos mais altos e chegar ao Senado em 2010. Ele teve mais de 76 mil votos e ainda ajudou a eleger os filhos Rafael (deputado estadual) e Leonardo (deputado federal). - Bianca Pimenta / Agência O Globo (25/06/2014)
 
GOVERNADOR NÃO METE A COLHER
Em meio a uma garfada e outra, em horários diferentes, ambos dizem ter mais apoios, mas nomes mesmo são difíceis de se ouvir. Quem não quer meter a colher nessa disputa — apesar de odiar perder um almoço ou um jantar, como admitiu na campanha — é o governador reeleito Luiz Fernando Pezão:
— Não tenho preferência. Essa é uma discussão que cabe aos deputados.
O empenho dos dois candidatos nos bastidores não é à toa. A presidência da Alerj confere poderes consideráveis ao escolhido, que será o terceiro na cadeia de comando do estado. No caso de ausência do governador e do vice, cabe a ele assumir o Palácio Guanabara. O presidente também controla a pauta de votações, avaliando o melhor momento para tentar aprovar projetos de interesse do governo. Também é dele o aval para autorizar CPIs e comissões especiais.
Paulo Melo ocupa o cargo há quatro anos e sucedeu a Picciani, que tentou sem sucesso ser eleito senador em 2010. Presidente regional do PMDB, Picciani, por sua vez, volta à Casa que já comandou por oito anos. Aparentemente, no PMDB, Picciani está levando vantagem, enquanto Paulo Melo busca aliados em outros partidos. Raros são aqueles que já declaram votos. Uma das exceções é Domingos Brazão (PMDB), que em 2011 tentou assumir o comando da Alerj, liderando uma dissidência contra Paulo Melo:
— Havia eu, Picciani e Paulo Melo como candidatos. Optamos pela união em torno do nome de Picciani. Já somos mais de dez com certeza (de um total de 15 da bancada do PMDB). Não podemos passar uma imagem de disputa interna.
Um deputado veterano, que prefere o anonimato, define a disputa entre Melo e Picciani como um autêntico jogo de tabuleiro, como “War”, que conjuga sorte e estratégia para conquistar territórios do inimigo.
— O jogo é pesadíssimo e cheio de blefes. A julgar pelo que os dois afirmam ter de apoio de parlamentares, só o PMDB deveria ter uma bancada de pelo menos 30 deputados — brinca.
Alguns deputados admitem desconforto com a situação.
— Cada um tem seu estilo. Picciani tem capacidade maior de negociação com os parlamentares na definição de pautas de interesse de cada um. Já Paulo Melo é um deputado mais presente. O ideal seria haver um acordo para evitar que o plenário tenha que decidir — diz a deputada Cidinha Campos (PDT).
Primeiro secretário da Alerj na atual Mesa Diretora, Wagner Montes (PSD) preferiu não declarar apoio a ninguém. Alega que o assunto ainda será debatido pelo partido. O atual líder do PSD e do governo, André Correa, porém, já é uma baixa no time de Melo. Ontem, ele informou ao atual presidente da Alerj que vai apoiar Picciani.
— Vamos trabalhar pelo entendimento, mas essa não é uma posição minha somente. É de uma ampla maioria na Casa — afirma Correa.
Paulo Melo, por sua vez, continuaria tentando buscar apoio em diversos partidos. Ao ser perguntado sobre a tradição recente na Casa de o presidente ser indicado pelo partido com mais integrantes, no caso o próprio PMDB, o deputado desconversa:
— O presidente (da Alerj) é o presidente de um conjunto de deputados, não de um partido.
Essa é uma disputa também de ressentimentos. Confirmando-se a divisão no PMDB, parte da bancada eleita do PT defende a ideia de que o partido opte por Paulo Melo. Os deputados não engolem a iniciativa de Picciani de liderar no Estado do Rio o movimento “Aezão”. Apesar de Michel Temer, reeleito vice de Dilma, ser do PMDB, parte do partido no Rio apoiou a candidatura de Aécio Neves (PSDB). Outros deputados da base do governo, principalmente do chamado baixo clero, também não digeriram muito bem o combinado Picciani-Aécio.
PEDRO PAULO E OSORIO NA PREFEITURA
Em meio a essa trama, está em jogo até mesmo a busca de prestígio político para interferir na escolha do sucessor do prefeito Eduardo Paes, em 2016. Picciani tenta emplacar o filho, o deputado federal Leonardo, como candidato do PMDB, enquanto Paes aposta as fichas no deputado federal Pedro Paulo, que já foi seu secretário da Casa Civil.
Pedro Paulo, aliás, deve voltar para a administração municipal, assim como o deputado estadual eleito Carlos Osorio, ex-secretário de Transportes. Foi o que garantiu ontem o prefeito:
— Adoraria que eles voltassem. Caso não voltem, eu obrigo. Aqui quem manda sou eu.
Mas pode ser que Osorio não vá nem para o Legislativo nem para a prefeitura. Durante a campanha eleitoral, circulou um boato de que ele poderá migrar para o estado, a fim de ficar à frente da Secretaria de Transportes. Já Pedro Paulo diz que ainda não conversou sobre o seu retorno para a prefeitura e sobre a pasta para a qual seria designado:
— Vou conversar com o prefeito. Não sei o que se passa na cabeça dele. De qualquer forma, ele não convida. Ele intima, convoca.
Para a vaga de Osorio na Alerj, no caso de ele voltar para o Executivo, irá Marcelo Simão, primeiro suplente do PMDB. Ele é de São João de Meriti e ligado a Domingos Brazão.
 
 

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