- Bloqueio no caixa do Rioprevidência (Globo, p.17) /
Para
se proteger contra risco de calote, investidores devem reter R$ 508 milhões do
fundo - Em um momento de crise nos
cofres estaduais, o Rioprevidência se envolveu em uma enrascada bilionária com
megainvestidores globais que vai resultar no bloqueio de parte das suas
receitas. Precisando pagar dívidas, o fundo de previdência dos servidores do
Estado do Rio captou, ano passado, US$ 3,1 bilhões com títulos de dívida em
dólar. Foi uma operação exótica, pois nunca um fundo de pensão brasileiro havia
emitido dívida lá fora e o lastro dos bonds foram os royalties de petróleo que
a autarquia receberia no futuro.
Mas, desde então, a cotação do petróleo despencou à metade,
a Petrobras reduziu a produção, e, com isso, as receitas do Rioprevidência. A
drástica mudança de cenário impactou o fluxo financeiro do fundo, levando ao
descumprimento de uma cláusula contratual com os credores (covenant), que prevê
o vencimento antecipado dos títulos, se a estimativa de receitas do devedor
cair abaixo de determinado limite. Enquanto negociam uma saída, os investidores
começarão a reter dinheiro do Rioprevidência. O primeiro bloqueio, previsto
para o dia 15, está estimado em US$ 129 milhões (R$ 508 milhões), 38% da receita
da autarquia com royalties no terceiro trimestre ou 3,6% de todas as receitas
do Rioprevidência para 2015.
Para lançar os papéis lá fora, o Rioprevidência criou uma
sociedade em Delaware, nos EUA, a Rio Oil Finance Trust, e cedeu a ela sua
receita com royalties e participação especial. Ou seja, toda a receita líquida
do Estado do Rio com royalties e participação especial, e equivale a 30% dos
recursos recebidos pela autarquia.
As emissões atraíram alguns dos maiores gestores de títulos
do mundo, como Allianz, Pimco, BlackRock e UBS. Mas a derrocada do petróleo e o
escândalo de corrupção que levou a Petrobras a reduzir suas metas de produção
azedaram a relação. A gota d’água foi o último relatório trimestral da Rio
Finance Oil Trust, apresentado dia 24, que admitia que uma cláusula covenant
havia sido violada. A relação entre o caixa do fundo e suas dívidas no futuro
deveria estar acima de 1,5, mas caiu a 1,2. A estimativa é baseada nas
projeções para a produção de petróleo calculadas pela consultoria Wood Mackenzie
até 2023.
Segundo as diretoras da Fitch para a área de finanças
estruturadas na América Latina Mirian Abe e Maria Paula Moreno, uma vez que o
covenant foi violado, 60% do fluxo de caixa excedente (dinheiro que sobra após
pagamento dos juros da dívida) da Rio Oil Finance Trust ficarão retidos numa
conta nos EUA. Em situações normais, seria repassado ao Rioprevidência.
No terceiro trimestre, a receita do Rio Oil Finance com
royalties foi de US$ 338 milhões. Descontados US$ 48 milhões destinados a despesas
correntes e deduções mandatórias (repasse a municípios e ao fundo ambiental,
por exemplo) e US$ 75 milhões do serviço da dívida, sobram US$ 215 milhões.
Assim, projeta a Fitch, US$ 129 milhões devem ser retidos. “Os royalties são
recebidos mensalmente e são reservados para pagamento do serviço da dívida no
fim do trimestre. Depois, o excedente é repassado ao Rioprevidência. Só que,
uma vez que o gatilho foi acionado, 60% do excedente ficarão depositados em
conta reserva até uma decisão dos investidores”, disse Mirian.
Agora, para se proteger do risco de calote, detentores dos
títulos poderão usar o valor acumulado para pré-pagar a emissão ou perdoar a
violação. Se houver perdão, afirmou Mirian, ele deve envolver aumento na taxa
da emissão ou multa. “A antecipação é uma possibilidade real. Mas também
imagino alguns investidores temendo que a Justiça brasileira decida contra
eles”, disse um gestor.
Na quarta-feira, a Fitch rebaixou os títulos para grau
especulativo (BB+). Desde que foram emitidos, os papéis com vencimento em 2024
já caíram 35,8%.
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