O poderoso deputado Jorge Picciani pode ser acusado de muitas coisas, menos de ser ingênuo. Desde o início da crise ele oscila entre apoio incondicional ao governador e broncas públicas.
Dessa vez ele foi bem longe. Disse com todas as letras que o governador é incompetente, não sabe negociar e não tem interlocução.
Há várias leituras possíveis sobre a atitude de Picciani: Uma jogada combinada para tentar desvincular sua imagem da do governador, uma forma de manter o governador na defensiva, "criando dificuldades para vender facilidades", retaliação por algo que o desagradou ou até mesmo a velha e conhecida chantagem política. "Você está na minha mão".
Não sabemos o que de fato ocorre nos bastidores, mas de qualquer forma, o governador não respondeu. Somando isso a sua declaração ontem aos companheiros do MUSPE de que ele não sabe se terminará o mandato, fica evidenciada toda a debilidade política do ocupante do Palácio Guanabara.
Em entrevista à CBN, presidente da Alerj
disse que há indícios de crime de responsabilidade fiscal
RIO -
O presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani, enviou
um e-mail nesta quinta-feira ao líder do governo na Assembleia, Edson
Albertassi (PMDB), criticando duramente o governador Luiz Fernando Pezão. Na
mensagem, ele fala até em votação para o impeachment do governador. Em
entrevista ao programa CBN Rio, da Rádio CBN, Picciani afirmou que, se o acordo
de recuperação fiscal não for homologado, o Rio só tem duas alternativas:
intervenção federal ou impeachment do governador.
— Há
uma constatação de uma pessoa que se elegeu através de muitos companheiros e
companheiras no estado todo, mas já se elegeu com um equívoco, que eu não
estava na assembleia, não percebi, que foi aquele aumento, quase que uma fraude
eleitoral, em junho de 2014, onde se chegou a aumentar a folha de pagamento em 70%
e esqueceu que, na Constituição de 1988, existe a isonomia para aposentados e
pensionistas. Depois veio a crise do petróleo, veio a queda da arrecadação, mas
os outros estados procuraram de uma forma ou de outra se ajustar — afirmou.
O presidente da Alerj ressaltou que fez
alertas sobre a situação do estado desde o início:
— Eu o alertei ainda no mês de março de
2015, de que era preciso cortar despesas, era preciso ter austeridade, era
preciso tomar uma solução para uma concessão de água mantendo uma estatal forte
na área de produção. Hoje você perde entre 35% a 40%, entre o que se produz no
Gandu até chegar à casa do consumidor. É muito melhor você fazer a concessão
das distribuições, haveria bilhares de empresas no mundo interessadas em fazer,
sete, oito, dez lotes para não concentrar na mão de uma só, fazer investimento,
gerar emprego, botar bilhões no caixa, quando fica correndo atrás do governo
federal para poder pegar de R$ 3,5 bilhões pelas ações. É uma incompetência
total. É um governo muito despreparado, começando pelo governador, e isso
avança muito quando não tem comando.
Sobre as discussões para assinatura do
acordo de ajuste fiscal, paralisada pela falta de aprovação do teto de gastos
exigido pela União e que vem recebendo muita pressão contrária pelos deputados
da Alerj, Picciani afirmou que o governador Pezão é incompetente nas
negociações, não tem força política e não sabe argumentar com o governo
federal. Para ele, quem pode ajudar nisso é o presidente da Câmara, Rodrigo
Maia, além da bancada federal.
— O governo federal não está cumprindo
a sua parte, e falta tudo no governo do estado. O governador como é
incompetente, como não sabe argumentar, como não tem força política, quem pode
ajudar a resolver isso é o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e a
bancada federal. O Rio de Janeiro não pode ser tratado assim — disse Picciani,
que afirma que Pezão não está preparado para governar o Rio:
— Ele estava preparado para defender
Piraí, e não o estado do Rio. Mas isso não significa que as forças politicas do
Rio não devam se movimentar. Eu faço um apelo nessa carta ao presidente Rodrigo
Maia — disse o presidente da Alerj.
Picciani disse também que falta
transparência por parte do governo estadual e que há indícios de crime de
responsabilidade fiscal. Segundo ele, o parecer prévio do TCE recomendando a
rejeição das contas de Pezão e os não repasses de recursos nas datas aos
poderes.
— Estamos falando de contas de gestão.
Um dos itens que eu cito é o não repasse nas datas aos Poderes. Mas só agora
tenho isso escrito — disse o presidente da Alerj, acrescentando que vai ter que
analisar eventuais pedidos de impeachment que já tramitam e outros que podem
tramitar com esses elementos — a OAB mesmo anda discutindo isso — de uma outra
forma, mas primeiro quero ver votado as contas na Comissão de Orçamento e
depois no Plenário.
Picciani continuou com suas críticas ao
governo Pezão, e afirmou que o estado precisa ser respeitado pela União. E
sentenciou: caso do governo federal não dê o socorro financeiro ao Rio, será
preciso uma intervenção federal ou Pezão vai sofrer um impeachment:
— Aprovamos muito mais na previdência do
que eles tinham exigido, aprovamos a Cedae, aprovamos o pagamento de 10% para o
fundo de equilíbrio fiscal, aprovamos o aumento do IPB, do IPVA, aumento da
cerveja e do fumo. Se nada disso, se o governo federal não respeitar o Rio de
Janeiro, só vai restar ao governo Temer ter a coragem de fazer uma intervenção
aqui, porque o Rio não pode ficar neste descontrole na área da Segurança e da
Saúde, ou nós vamos fazer o impedimento e vamos enfrentar o governo federal.
Porque há necessidade de mostrar que o Rio de Janeiro, apesar de ter um governo
fraco, deve ser respeitado — disse o presidente da Alerj, que continuou:
— Ele é incompetente, não sabe fazer as
coisas e vai agravar a crise. A solução que existe é a intervenção ou o
impeachment. Se a intervenção nós não tivermos possibilidade de fazê-lo, o que
nos resta é analisar com mais carinho, com mais vigor, já que nós temos novos
elementos, com o parecer do TCE, que induz examinar pelo crime de
responsabilidade. [O impeachment] é a decorrência natural, eu acho.
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