sexta-feira, 26 de agosto de 2016

O Globo - Estado eleva impostos, mas não corta gastos


O Globo
Estado eleva impostos, mas não corta gastos

Estado aumenta o valor de mais um imposto
Governo eleva em até 150% taxa de fiscalização ambiental, mas demora a implementar corte de gastos
Luiz Gustavo Schmitt

O governador em exercício Francisco Dornelles sancionou ontem mais uma lei que aumenta imposto e que, no final das contas, será repassado à população fluminense. O ato do governador aumentou em até 150% a taxa de fiscalização ambiental de pequenas, médias e grandes empresas que trabalham com atividades potencialmente poluidoras, como extração e transporte de produtos da fauna e da flora. A medida se soma ao arrocho que o estado vem promovendo desde o fim do ano passado, quando a crise começou a se agravar.
Em dezembro, houve aumento da alíquota do ICMS. Esse reajuste se refletiu sobre tarifas de energia e telecomunicações, além de preços de bebidas, material de construção e de limpeza e até do papel higiênico de folha dupla, que passou a ser tributado. A alta do papel, porém, deve ser revista pela Fazenda. O IPVA também subiu: a alíquota passou de 3% para 4% para carros flex, por exemplo. Houve alta ainda do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos (ITCD), um tributo sobre a herança.
De acordo com uma estimativa da Fir-jan, os custos com os aumentos e a criação de novos tributos estaduais podem chegar a R$ 4,4 bilhões este ano, o que significaria que cada morador do estado desembolsaria R$ 269, em média.
MAIS CARGOS COMISSIONADOS
Se de um lado há aumento de impostos, do outro, onde está o governo, ainda não se tem notícias dos efeitos práticos das medidas de austeridade prometidas pelo estado. Pelo contrário — ao menos no que se refere aos cargos comissionados, cuja folha de pagamento é de cerca de R$ 30 milhões mensais. Nos últimos 12 meses, houve um aumento de 258 vagas. De acordo com o caderno de recursos humanos da Secretaria estadual de Planejamento, o salto foi de 8.594, em julho do ano passado, para 8.852, no mesmo período deste ano. Se comparado a janeiro, quando o Rio tinha 8.865 comissionados, houve redução de somente 13 cargos.
No discurso oficial, no entanto, o estado informou em junho que extinguiu cinco secretarias, cuja maioria dos funcionários era de comissionados. Foram extintas as pastas de Habitação, Proteção e Defesa do Consumidor, Prevenção à Dependência Química, Envelhecimento
As consequências da crise A conta paga pelo contribuinte
O estado aumentou a alíquota, de 1% para 2%, do adicional do imposto nos produtos vinculados ao Fundo Estadual de Combate à Pobreza (FECP). A medida incidiu sobre produtos como bebidas, fumo e materiais de limpeza, entre outros. A alíquota geral do ICMS passou de 19% para 20%, sendo a maior do Brasil. Em estados vizinhos, como Espírito Santo e Minas Gerais, é de 17% e 18%; respectivamente. A estimativa é que essa medida incremente a arrecadação em R$ 1,6 bilhão este ano.
IPVA: Em outubro, o estado aumentou a alíquota de 3% para 4% para carros flex, que respondem por 27% da frota. Veículos movidos a GNV saltaram de l%para 1,5%. A expectativa é que essa medida aumente a arrecadação em R$ 550 milhões este ano.
Envelhecimento Saudável e Desenvolvimento Regional. Os órgãos foram criados em 2013 pelo então governador Sérgio Cabral, para acomodar aliados políticos e ajudar a fortalecer a candidatura do governo.
Em seu pacote de medidas de austeridade, o estado anunciou que teria uma lista de dois mil imóveis que poderiam ser vendidos e que repassaria pelo menos dez, entre eles a Ilha de Brocoió, na Baía de Guanabara, para capitalizar o Rioprevidência, cujo rombo é estimado em R$ 12 bilhões. Contudo, nenhum 
dos bens foi vendido até hoje. 
valor pago a cada trimestre por empresas potencialmente poluidoras passa de R$ 1.350 para R$ 3.478 (no caso das de grande porte). Para as de médio porte, a taxa saltará de R$ 270 para R$ 695,61. Para as pequenas empresas, subirá de R$ 135 para R$348,80.
A parte do governo
O pacote de austeridade prevê a transferência de dez bens do estado para capitalizar o Rioprevidência, mas nenhum foi vendido até agora. Outros imóveis que poderão ser postos à venda ainda estão sob análise da Secretaria estadual de Planejamento.
Os órgãos do estado terão que reduzir 30% dos gastos com custeio, com exceção das secretarias de Educação, Saúde, Segurança e Administração Penitenciária. Segundo o governo, o ajuste que começou em julho será concluído até o mês que vem.
SECRETARIAS. Foram extintas as secretarias de Habitação, Proteção e Defesa do Consumidor, Prevenção à Dependência Química, Envelhecimento Saudável e Desenvolvimento Regional. Apesar disso, dados da Secretaria de Planejamento mostram que, em um ano, houve aumento do número de cargos de livre nomeação. O governo alega que exonerou ocupantes de 2.266 cargos de janeiro a julho deste ano, enquanto nomeou 1.842 no mesmo período. Mas esses números incluem funcionários de carreira com cargos em comissão.

O governo informou que a Secretaria estadual de Planejamento "está regularizando o processo dos imóveis e só após a transferência deles ao fundo poderá avaliar as propriedades para então abrir as licitações para venda"
O estado também prometeu reavaliar seus cem maiores contratos, além de cortar 30% do custeio de todos os órgãos da administração, com exceção das secretarias de Educação, Saúde, Segurança e Administração Penitenciária.
Em nota, o Palácio Guanabara informou que os "contratos ainda estão sendo examinados" e que as reduções no custeio deverão ser concluídas no prazo de 60 dias, a contar de 1° de julho, quando o decreto de austeridade começou a vigorar.
Os aumentos de impostos provocaram reação do empresariado, que teme uma redução no consumo. Em nota, a Fecomércio informou que a alta da carga tributária não é favorável e desequilibra a economia. "O ICMS do Rio tem a maior alíquota geral (20%) entre os estados brasileiros. Se olharmos por dentro desses números, veremos que penalizamos a cadeia inteira e que, por sua natureza, causam impactos ainda maiores ao pequeno empreendedor. No final encontramos o consumidor, que terá produtos mais caros, nem sempre dentro de suas expectavas. Menos consumo gera menos impostos, portanto" diz o texto. 

DETRAN DESISTE DE NOVA TAXA
Um dia após publicar uma portaria anunciando que donos de veículos teriam que pagar uma taxa no valor de R$ 126,97 para comunicar a venda de carros, o Detran suspendeu ontem a nova norma. Segundo o órgão, os efeitos da medida serão reavaliados, assim como os procedimentos de informática. O Detran informou que foi "sensível às demandas da população". Este ano, já foram registradas, em média, 39,4 mil vendas de veículos por mês. De acordo com o órgão, nenhuma cobrança chegou a ser feita. 

REBAIXAMENTO
AGÊNCIA PIORA NOTA DO ESTADO
A agência Standard & Poor's (S&P) que avalia o risco de crédito de governos e empresas do mundo inteiro, rebaixou ontem a nota do Estado do Rio de "B-" para "CCC-". A agência destacou que o estado tem dívidas de R$2,5 bilhões vencendo nos próximos seis meses. Com o rebaixamento, o Rio, que já estava na categoria de "especulação", passa agora a ser avaliado como de "risco alto de inadimplência".
A agência cita a deterioração das finanças do estado, que se reflete "em um profundo estresse financeiro, comprometendo sua capacidade de cobrir os pagamentos". A S&P disse ainda que a perspectiva é negativa, já que o Estado corre o risco de atrasar pagamentos no próximos meses.
A S&P cita que, entre outros pagamentos, vencem em setembro R$ 164 milhões de um empréstimo com o banco Credit Suisse. "Se o Rio perder esse pagamento, podemos rebaixar o estado para o estágio de calote". Das dívidas totais, 67% são oriundos de empréstimos com o governo federal, 19% com bancos públicos e 12% de bancos comerciais.
"Esperamos que o Rio continue tendo um desempenho orçamental muito fraco. Estimamos que o déficit operacional do Estado alcance R$ 8,4 bilhões ou 17% das receitas neste ano", diz o comunicado da agência. (Bruno Rosa)

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