18/11/2016
Aumento de alíquota tem sinal
verde
(Servidor - Paloma Savedra)
Projeto de lei que passa de
11% para 14% a contribuição previdenciária de ativos, inativos e pensionistas.
Foi inevitável. A prisão do
ex-governador Sérgio Cabral e o desgaste do PMDB basearam discursos críticos de
parlamentares sobre o pacote de austeridade do governo ontem na Assembleia
Legislativa. O cenário foi um raio-x da dificuldade que o governo enfrentará
para aprovar as medidas em dezembro. Apesar disso,o projeto mais polêmico—que
aumenta a alíquota previdenciária do funcionalismo de 11% para 14%—teve sinal
verde ao ser aprovado nas comissões. O texto recebeu 106 emendas.
Sem contar que o procurador-geral
do Ministério Público do Rio, Marfan Vieira, entregou documento ao Legislativo apontando
inconstitucionalidade em 17 das 21 propostas de ajuste fiscal, entre elas a que
aumenta a contribuição previdenciária. A denúncia de “inconstitucionalidade” do
PL, inclusive, foi usada por vários deputados.
Para Luiz Paulo (PSDB), que
votou contra a tramitação do texto na Comissão de Orçamento, a proposta configura
“confisco de salário”: “É inconstitucional na forma e imprestável no mérito”,
disse. “Se quer aumentar alíquota tem que fazer simulação atuarial do que isso
representa, e não há uma linha disso (no projeto)”, argumentou.
Líder do governo na Alerj,
Edson Albertassi (PMDB) reafirmou o que a equipe econômica do governador Luiz
Fernando Pezão vem sustentando: sem a implementação do pacote não haverá
recursos para pagar pessoal no ano que vem. “O momento é grave e decisivo para
servidores. Se nada for votado, a tendência é que em 2017 não tenhamos
condições de pagar o custeio da máquina e servidores. O Executivo hoje tem
muitas dificuldades e não há expectativa de receitas novas”, disse ele,
acrescentando que outras medidas que Pezão tenta garantir junto à União vão
demorar. Ele disse acreditar que a prisão de Cabral não influenciará na votação. “São questões distintas.
Não tem a ver com a gestão do Pezão”, avaliou. O presidente da Alerj, Jorge
Picciani (PMDB), fez coro: “Não vai influenciar. Decisão da Justiça se cumpre e
ele (Cabral) terá ampla defesa. A questão do Parlamento não tem nada ver com
isso (a prisão)”.
Líder do Psol na Casa, Marcelo
Freixo atacou a taxação de servidores: “Essa crise que o estado vive é de
receita e o servidor não é a razão. É evidente que o que aconteceu hoje (prisão
de Cabral) tem relação com a crise e mostra a péssima gestão do PMDB no Rio. O
endividamento e o que fizeram como fundo previdenciário são problemas de
gestão”. Deputados do PDT, que compõem a 2ª maior bancada, decidiram
que votarão contra o projeto da alíquota. Disseram que vão propor
destinação maior do Duda do Detran para aumentar a arrecadação, elevando
percentual para 10%. Farão emenda em outro projeto sobre o tema.
>O apoio parlamentar ao pacote
de ajuste fiscal ainda não se definiu, mas o comportamento de alguns deputados
ontem abriu caminho para uma mudança de rumo e de maior rejeição ao pacote. O
deputado Janio Mendes (PDT),por exemplo, renunciou à vice-liderança do governo
na Alerj. Ele disse que a decisão foi tomada na segunda- feira em reunião com o
partido que decidiu não apoiar o pacote. “Minha bancada teve posição contrária
a qualquer mexida que cause prejuízo à classe trabalhadora. Diante das posições
colocadas pelo governo, entendi que seria conflitante a minha presença na
vice-liderança e na bancada do PDT”, afirmou.
Além da ‘baixa’ no
Legislativo, aumentará a pressão do funcionalismo. O Movimento Unificado dos Servidores
do Rio (Muspe) vai entregar propostas na quarta a Picciani e promete não dar
trégua. “A prisão do Cabral só reforça que essa crise não é culpa dos
servidores. Ficou claro que foi provocada não só por má gestão mas por
roubalheira nos cofres públicos. Agora,o líder
máximo foi preso. Isso explica
muito a quebradeira do estado hoje”, disse Alzimar Andrade, um dos coordenadores
do Muspe.
>A prisão de Sérgio Cabral impulsionou
diversos deputados a assinar pedido de instalação de duas Comissões Parlamentares
de Inquérito (CPIs) na Alerj. O Psol pediu a CPI das concessões de isenções fiscais
a partir de 2008 e conseguiu, até o início da noite de ontem, 28 assinaturas.
Já a deputada Zeidan (PT) recolheu 24 nomes (o mínimo) para investigar suspeitas
de superfaturamento em obras do Maracanã e Metrô.
Mas os pedidos não garantem
que as CPIs vão ocorrer. Para isso, o presidente da Alerj terá que chamar ao
plenário líderes da Casa. E Édson Albertassi acredita que não haverá “tempo
hábil” para isso, tendo em vista o recesso parlamentar: “Mais pela questão técnica, não
política”.
Eliomar Coelho (Psol) diz que
o partido pressionará para que o trabalho seja feito até no recesso: “O
Regimento Interno é claro ao dizer que podemos trabalhar nesse período. Não podemos
nos furtar a achar saídas para a crise. Temos que abrir a caixa preta das
isenções. É fundamental para os rumos do estado”.
Ontem, a Fasp foi à Justiça e
pediu a apreensão da folha de pagamento de outubro para acelerar os créditos de
salários. “Depois, vamos fazer o bloqueio da conta do estado para transferência
dos valores para os servidores”, disse o advogado da Fasp, Carlos Jund.
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