O Globo,
p.33
Procuradoria
do Rio cobra R$ 2,8 bi de dívidas
São 7 mil
devedores ao estado. Cerca de 10% deles são pessoas físicas
Em meio à
grave crise fiscal por que passa o Rio, a Procuradoria Geral do Estado iniciou
a cobrança de R$ 2,8 bilhões devidos por 7 mil pessoas e empresas inscritas na
dívida ativa estadual. Será a última chance de acertar as contas antes da
execução fiscal, quando o governo recorre à Justiça para bloquear bens dos
devedores. Cerca de 10% deles são pessoas físicas. Entre os 7 mil devedores, há
dívidas que vão de R$ 1.051 a R$ 433 milhões e empresas de ramos diversos,
incluindo alimentício, petroquímico e varejo. São contribuintes que deixaram de
pagar ICMS, IPVA ou ITCMD, comprometendo a arrecadação estadual.
Quando
alguém não paga algum tributo, cabe à Secretaria da Fazenda ou a outro órgão
responsável pela arrecadação — como o Detran no caso do IPVA — cobrar do
contribuinte. Se as esferas administrativas de cobrança se esgotam, o crédito é
inscrito na dívida ativa. A partir daí, os procuradores têm dois caminhos:
protestar os títulos da dívida ou realizar a execução fiscal.
No primeiro
caso, esses títulos são encaminhados a um cartório, que se encarrega de
comunicar aos devedores a cobrança e dar a eles um prazo para regularizar a
situação. Se isso não for feito, o nome do devedor vai para o Serasa e outros
órgãos com bancos de dados de inadimplência. Como o nome “sujo”, os devedores
têm dificuldade de ter acesso a crédito, por exemplo. "É uma forma que
temos de constrangê-los, para fazêlos honrar os débitos", diz Marcus
Vinícius Barbosa, procurador do estado responsável pela dívida ativa.
MÉDIA DE
RECUPERAÇÃO DE 3%
O lote de
títulos com R$ 2,8 bilhões em dívidas foi recentemente encaminhado ao cartório.
O montante é igual ao volume de créditos protestados pela Procuradoria ao longo
dos últimos oito anos. Segundo Barbosa, essa nova leva têm um perfil de dívida
melhor que o usualmente encaminhado ao cartório, pois foi feito um pente-fino
dos devedores. São pessoas ou empresas que já reconheceram a dívida e que,
muitas vezes, iniciaram o pagamento parcelado do débito mas, por alguma razão,
interromperam o pagamento. "Temos mais chance de negociar o pagamento
agora e, numa eventual briga na Justiça, nossa chance de receber também aumenta
porque o devedor já confessou o débito", explica Barbosa.
Ainda assim,
a chance de recuperar os créditos é pequena, reconhecem os procuradores. Nessa
fase de cobrança (protesto de títulos), apenas 3% dos valores costumam ser
reavidos, o que daria R$ 84 milhões. Montante insuficiente para honrar a folha
de pagamento, em média de R$ 2,2 bilhões mensais, incluindo ativos, inativos e
pensionistas.
Paralelamente, a PGE está
trabalhando em parceria com o Banco do Brasil para recuperar depósitos
judiciais que foram feitos como garantia de dívidas questionadas na Justiça. Em
muitos casos, o estado ganhou os processos, mas não conseguia localizá-los por
serem muito antigos.
ALÍVIO
NA CRISE
Hoje,
há R$ 1,5 bilhão em depósitos com esse perfil no Banco do Brasil. A
Procuradoria já identificou que R$ 16 milhões podem ser sacados porque se
referem a ações já encerradas em favor do governo estadual. "A gente sabe
que a dívida ativa não é a solução para a crise do estado. Mas é possível melhorar
bastante. Não podemos nos conformar com índices tão baixos de
recuperação", disse Leonardo Espíndola, procurador geral do Estado.
PETROBRAS
E CSN CONCENTRAM 30% DOS DÉBITOS, COM R$ 22,6 BI
Para
procurador, crise e modelo de cobrança contribuem para elevar dívida
No
ano passado, a dívida ativa estadual alcançou R$ 77 bilhões. São mais de 230
mil devedores. Os 20 maiores, liderados por Petrobras e CSN, concentram 30% dos
débitos, com R$ 22,6 bilhões. Boa parte dos grandes devedores, porém, está em
situação irregular ou praticamente quebrado, dificultando a recuperação dos
valores devidos. A Procuradoria Geral do Estado estima que apenas metade
daquele montante tem chance de ser recuperada pelo governo.
Segundo
Marcus Vinícius Barbosa, procurador do estado responsável pela dívida ativa, a
crise econômica por que passa o país e o modelo de cobrança brasileiro, que
abre espaço para infindáveis contestações judiciais dos débitos, são
responsáveis pelo aumento recente da dívida ativa do Rio. Em 2015, o montante
alcançava R$ 59 bilhões. "Entre os grandes devedores, temos três
situações. Empresas que fecham sem pagar suas dívidas, como Mesbla e Varig,
empresas envolvidas em esquemas de sonegação fiscal e aquelas que têm bons
advogados e protelam o pagamento", afirma Barbosa.
A
Petrobras lidera a lista de devedores, com R$ 7,5 bilhões em dívida. A CSN vem
em seguida, com R$ 1,6 bilhão. As duas questionam os valores na Justiça.
Segundo a estatal, a empresa “garantiu em juízo todos os valores devidos,
mediante uso de depósitos, fianças, seguros ou outras modalidades de garantia,
visando continuar discutindo a pertinência da cobrança”. Já a siderúrgica de
Volta Redonda lembra que, desde janeiro do ano passado, já recolheu aos cofres
públicos mais de R$ 600 milhões apenas de ICMS.
VAREJISTAS
E TELES NA LISTA
No
varejo, há redes de supermercados como Paes Mendonça e Carrefour. A primeira
encerrou as atividades. O Grupo Pão de Açúcar arrenda dez lojas do grupo no
Rio, mas esclareceu que não herdou o passivo fiscal da companhia. Já o
Carrefour disse, em comunicado, que “cumpre respeitosamente suas obrigações
junto ao Estado do Rio de Janeiro e que possui discussões administrativas e
judiciais devidamente fundamentadas”.
Há
ainda empresas da área de comunicações, como a Star One (braço da Embratel para
a área de satélites), a Nextel e os Correios. A Star One não quis fazer
comentários. A Nextel questiona a dívida judicialmente e os Correios, que são
protegidos por imunidade tributária, não reconhecem os valores devidos. A Light,
que aparece na lista com R$ 531 milhões, também discute a questão na Justiça e
frisa que está adimplente.
Várias outras empresas são investigadas por supostas
fraudes e sonegação, como as companhias do ramo de combustíveis Arrows
Petróleo, Rodopetro e Manguinhos. O GLOBO não conseguiu contato com elas, nem
com as demais empresas que aparecem na lista.
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